Como age um parceiro narcisista: o ciclo de idealização, desvalorização e descarte


Quando se inicia um relacionamento com um narcisista, tudo parece perfeito: atenção constante, elogios exagerados e uma sensação de conexão intensa. Essa fase, conhecida como idealização, é caracterizada por gestos grandiosos de afeto, promessas de futuro e manifestações intensas de interesse. Muitos descrevem esse início como “love bombing”, uma explosão de carinho que cria dependência emocional e prepara o terreno para fases dolorosas.
À medida que o tempo avança, porém, a dinâmica muda. O narcisista passa a praticar a desvalorização: críticas sutis ou abertas, sarcasmos, comparações e jogos emocionais se intensificam. Comportamentos manipulativos, como o gaslighting (quando fazem a vítima duvidar da própria percepção da realidade) são frequentes e reforçam a confusão emocional (Stern, 2007). Nessa fase, a autoestima já está fragilizada e o parceiro passa a alternar momentos de proximidade com períodos de frieza, “retirando o tapete emocional” sempre que sente que perde o controle.
O ciclo, então, se encaminha para a fase de descarte. Em geral, o narcisista afasta-se abruptamente ou reduz o contato a níveis mínimos, às vezes buscando novas vítimas para reiniciar o padrão. A pessoa deixada sente um vazio profundo, fracasso e confusão mental: sintomas da chamada ferida invisível. O impacto pode incluir depressão, ansiedade e sentimento crônico de culpa.
É importante compreender que nem todo narcisista age da mesma forma. Existem diferentes tipos de narcisismo: o vulnerável, que se vitimiza e manipula pelo sofrimento; o maligno, que mistura crueldade e prazer em machucar; e o grandioso, voltado para conquistas e exposição social (Campbell & Miller, 2011).
A escolha das vítimas também não é aleatória: pessoas empáticas, sensíveis e propensas ao autossacrifício se tornam alvos frequentes devido à sua tendência de compreender, desculpar e tentar “salvar” o parceiro (Simon & Becker, 2016).
É comum que, após o término, o ciclo siga afetando emocionalmente a pessoa. Surgem dúvidas, recaídas e até vontade de voltar ou “consertar” o narcisista. O processo de libertação e cura envolve reconhecer o padrão, buscar apoio especializado (psicoterapia) e reconstruir a autoestima. Estratégias como o contato zero, investir em vínculos saudáveis e reaprender a confiar são fundamentais para a reconstrução do amor próprio.
Muitos ficam presos em padrões repetitivos, atraindo novamente perfis narcisistas. A teoria dos esquemas mostra que crenças profundas formadas na infância, como abandono, privação emocional, subjugação ou autossacrifício, podem conduzir à repetição dessas relações. Por isso, o trabalho clínico é essencial para quebrar ciclos e transformar dor em autoconhecimento.
É importante lembrar que o narcisismo não afeta apenas relacionamentos amorosos. Famílias disfuncionais, com pais ou irmãos narcisistas, podem perpetuar rivalidades, favoritismos e até abusos emocionais ao longo da vida adulta. Também há casos de amizades tóxicas, em que a manipulação e o abuso não vêm de parceiros, mas de pessoas próximas e confiáveis.
Reconhecer esse ciclo e buscar caminhos para se libertar dele é um passo fundamental para a saúde emocional, a autoestima e o desenvolvimento de relações saudáveis. Se identificar esses comportamentos no seu relacionamento, lembre-se que não está sozinho(a) e que existem recursos, apoio e esperança de reconstrução.
Referências:
American Psychiatric Association. (2013). DSM-5: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
Stern, R. (2007). The Gaslight Effect.
Campbell, W. K., & Miller, J. D. (2011). The Handbook of Narcissism and Narcissistic Personality Disorder.
Simon, D. & Becker, C. (2016). Empathy Trap: Understanding and Overcoming Narcissists.
Malkin, C. (2015). Rethinking Narcissism.
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