

Sinais emocionais e comportamentais que muitas vezes passam despercebidos
Nem sempre o relacionamento tóxico começa com gritos, controle ou humilhações.
Muitas vezes ele se apresenta como algo intenso, apaixonado, envolvente e justamente por isso, difícil de identificar no início. O que começa como “cuidado”, “atenção” ou “preocupação” pode, aos poucos, se transformar em domínio, culpa e confusão emocional.
Quando o amor se mistura com dor
Um dos primeiros sinais de que algo não vai bem é o sentimento constante de tensão emocional.
Você se sente pisando em ovos, com medo de desagradar, e percebe que precisa se adaptar cada vez mais para manter a relação em “paz”.
Aos poucos, a sua energia vai sendo consumida, e a relação, que deveria nutrir, começa a esgotar.
Mas por que é tão difícil perceber (e ainda mais difícil sair) desse tipo de vínculo?
A Teoria dos Esquemas, desenvolvida por Jeffrey Young, nos ajuda a compreender.
O que a Teoria dos Esquemas explica sobre vínculos tóxicos
Os esquemas precoces desadaptativos são padrões emocionais e cognitivos que se formam na infância e moldam a forma como nos relacionamos na vida adulta.
Eles surgem de necessidades emocionais não atendidas, como amor, segurança, validação, autonomia e limites saudáveis.
Em um relacionamento tóxico, alguns esquemas tendem a se ativar com força. Veja os mais comuns:
1. Esquema de Abandono
A pessoa vive com medo de ser deixada, rejeitada ou trocada.
Em vínculos tóxicos, esse medo faz com que aceite situações de humilhação ou negligência, acreditando que “é melhor ter alguém do que ficar sozinha”.
2. Esquema de Privação Emocional
Há a sensação de que o outro nunca oferece o que você precisa: carinho, empatia, compreensão.
Mesmo assim, você insiste, tentando “ensinar o outro a amar”, na esperança de finalmente ser vista e valorizada.
3. Esquema de Subjugação ou Autossacrifício
Você se coloca sempre em segundo plano, evita conflitos, e sente culpa por expressar suas próprias necessidades.
Com o tempo, começa a se desconectar da própria identidade e perde o sentido de quem é.
4. Esquema de Desconfiança e Abuso
Em alguns casos, a pessoa já entra nas relações esperando o pior: ser enganada, traída, usada.
Isso gera hipervigilância, controle e discussões constantes que acabam reforçando o ciclo de dor.
5. Esquema de Dependência e Incompetência
O parceiro(a) tóxico muitas vezes reforça esse padrão: faz você acreditar que não saberia viver sem ele, que é “fraca(o)” ou “incapaz”.
A relação passa a ter um tom de dominação e dependência emocional.
O ciclo emocional: da idealização à desvalorização
Relacionamentos tóxicos costumam seguir um padrão cíclico.
Primeiro, o outro te coloca em um pedestal (idealização).
Depois, começa a criticar, manipular e te culpar por tudo (desvalorização).
Por fim, pode te afastar ou te “descartar” emocionalmente e, quando você tenta ir embora, ele volta com promessas e arrependimento (reaproximação).
Esse ciclo reforça esquemas antigos e mantém o vínculo baseado no medo, na culpa e na esperança de mudança.
O caminho da consciência e da cura
Perceber que há algo errado não é sinal de fraqueza: é o primeiro passo para recuperar o poder sobre a própria vida.
Na psicoterapia, trabalhamos justamente o reconhecimento desses esquemas e o fortalecimento de recursos internos para que o amor deixe de ser sinônimo de sofrimento.
Romper o ciclo exige:
Autoconhecimento — compreender seus padrões e o que te faz permanecer.
Limites saudáveis — dizer “não” sem culpa e aprender a se priorizar.
Reconexão com sua identidade — lembrar quem você é fora dessa relação.
Rede de apoio e psicoterapia — fundamentais para reconstruir a autoestima e o senso de merecimento.
Importante: O amor saudável não confunde, não adoece, não prende.
Ele oferece espaço para crescer, respirar e ser.
Se você se identificou com esses sinais, talvez seja hora de olhar para dentro, com gentileza e coragem, e se perguntar:
“O que essa relação desperta em mim que eu já senti antes?”
A resposta pode ser o início da sua libertação emocional.
