Espiritualidade, Sentido e Saúde Mental: Um Olhar pela Psicoterapia


Vivemos em um mundo marcado por muitas rupturas: perdas, crises, incertezas. Diante disso, muitos de nós se perguntam: por que isso está acontecendo comigo?, como seguir em frente?, o que dá sentido à minha vida agora?
É nesse ponto que a espiritualidade pode se tornar um recurso potente de cuidado, reconexão e transformação.
O Que é Espiritualidade?
Espiritualidade não está necessariamente ligada à religião, embora também possa estar. Ela diz respeito à busca de propósito, sentido, valores, conexão com algo maior – seja esse "algo" Deus, a natureza, a coletividade, ou uma filosofia de vida. É a dimensão mais profunda do ser humano, que muitas vezes emerge com força justamente nos momentos de dor, luto ou mudança.
A OMS e a Espiritualidade como Pilar de Saúde
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a espiritualidade como uma das dimensões fundamentais da saúde, ao lado do bem-estar físico, mental e social. Nos últimos anos, o cuidado espiritual passou a ser considerado também no campo da saúde mental, especialmente em contextos de sofrimento psíquico intenso, cuidados paliativos, luto, doenças crônicas e existenciais.
Esse reconhecimento abre espaço para um olhar mais amplo na clínica psicológica, que respeita a singularidade de cada sujeito e valoriza aquilo que o sustenta por dentro.
A Logoterapia e a Busca de Sentido
Na logoterapia, criada por Viktor Frankl, psiquiatra austríaco e sobrevivente de campos de concentração, a espiritualidade é vista como uma dimensão essencial da existência. Frankl acreditava que o ser humano pode suportar quase qualquer dor, desde que encontre um sentido para ela.
Em sua prática, a logoterapia não busca apenas aliviar sintomas, mas ajudar a pessoa a encontrar significado mesmo nas experiências mais difíceis. Essa abordagem vê a espiritualidade como uma força motivadora profunda e única.
Esquemas Precoces e Espiritualidade: Caminhos de Cura
A teoria dos esquemas, desenvolvida por Jeffrey Young, explica como padrões emocionais negativos formados na infância (os chamados esquemas precoces) influenciam nossas relações, decisões e forma de nos vermos no mundo.
Esquemas como abandono, privação emocional, inutilidade ou autossacrifício podem nos afastar de nós mesmos e de uma vida com sentido. E é aí que a espiritualidade, integrada à psicoterapia, pode abrir caminhos de ressignificação: ao acessar o que é mais essencial em nós, conseguimos nomear nossas dores, buscar novos significados e construir formas mais saudáveis de existir.
Espiritualidade na Psicoterapia
Na prática clínica, trazer a espiritualidade para a terapia não significa conduzir a pessoa a uma crença específica, mas acolher o que faz sentido para ela. É perguntar, por exemplo:
O que te sustenta quando tudo parece difícil?
Quais são os seus valores mais profundos?
Há algo maior com o qual você sente conexão?
Essas perguntas ajudam a ampliar o olhar sobre o sofrimento e a abrir espaço para esperança, propósito e reconstrução.
Conclusão
Falar de espiritualidade é falar de humanidade. É reconhecer que, por trás das dores e dos diagnósticos, existe um ser que busca sentido, pertencimento e transcendência. E integrar essa dimensão à psicoterapia é um convite à cura que vai além da dor — é um caminho de reencontro com a própria essência.
