Psicoterapia em Grupo e Teoria dos Esquemas: Um Caminho de Cura Relacional

Introdução

A psicoterapia em grupo é uma modalidade terapêutica que promove crescimento emocional por meio das relações interpessoais. Em um grupo, não estamos apenas falando sobre nós mesmos — estamos, sobretudo, nos relacionando. E é nesse espaço relacional que antigos padrões, feridas e esquemas podem emergir... e ser transformados.

A Teoria dos Esquemas, desenvolvida por Jeffrey Young, oferece uma poderosa lente para compreender como nossas vivências precoces moldam crenças profundas e padrões de funcionamento emocional. O grupo, por sua vez, se torna um espaço seguro para que esses esquemas sejam ativados, reconhecidos e reestruturados — por meio do contato genuíno com o outro.

O que é a psicoterapia em grupo?

A psicoterapia em grupo é uma intervenção conduzida por um(a) psicoterapeuta em que um conjunto de pessoas compartilha vivências emocionais com o objetivo de transformação psíquica. Diferente da terapia individual, o grupo funciona como um laboratório vivo de relações, onde padrões disfuncionais podem ser experimentados e ressignificados com a mediação do(a) terapeuta.

Teoria dos Esquemas: um breve panorama

A Teoria dos Esquemas (Young et al., 2003) propõe que todos nós desenvolvemos esquemas precoces desadaptativos (EPDs) a partir de experiências emocionais frustrantes na infância. Esses esquemas são como lentes distorcidas pelas quais enxergamos o mundo e nós mesmos, influenciando pensamentos, emoções, comportamentos e relacionamentos.

Alguns exemplos comuns de esquemas:

  • Abandono: “As pessoas sempre vão me deixar.”

  • Defectividade/Vergonha: “Se souberem quem eu realmente sou, vão me rejeitar.”

  • Subjugação: “Não posso expressar minhas vontades; os outros são mais importantes.”

  • Isolamento social: “Eu sou diferente, nunca me encaixo.”

  • Padrões Inflexíveis: “Tenho que ser perfeito o tempo todo.”

Esses esquemas se formam a partir da relação com os cuidadores e, na vida adulta, são frequentemente reativados em contextos relacionais — exatamente o que o grupo terapêutico oferece.

Por que o grupo é um lugar potente para trabalhar os esquemas?

A psicoterapia em grupo oferece condições ideais para trabalhar os esquemas porque:

1. O grupo ativa os esquemas

Os outros membros do grupo, sem querer, acionam as dores antigas: exclusão, julgamento, rejeição, crítica, abandono. Essa ativação é um convite para a mudança.

Exemplo: uma paciente com o esquema de exclusão social pode se sentir deslocada ao ouvir outras pessoas se identificando entre si. Em vez de fugir dessa dor, o grupo permite que ela a traga à tona e, com apoio, reestruture esse esquema.

2. O grupo oferece novas experiências emocionais

A Teoria dos Esquemas defende que a reestruturação dos esquemas exige vivências emocionais corretivas. O grupo oferece:

  • Escuta empática

  • Validação emocional

  • Contenção afetiva

  • Feedback honesto e cuidadoso

  • Experiências de pertencimento e reconhecimento

Exemplo: um participante com o esquema de defectividade pode se surpreender ao perceber que sua vulnerabilidade é acolhida, e não rejeitada.

3. O grupo proporciona espelhamento e feedback

Ver a si mesmo nos outros permite reflexões mais profundas sobre o próprio funcionamento. O feedback (gentil, terapêutico) é um instrumento poderoso para trazer à consciência os modos automáticos de agir.

Exemplo: alguém com o esquema de subjugação pode perceber, ao ouvir a história de outro membro, como também se anula nas relações — e como isso se repete no grupo.

Papel do(a) terapeuta de grupo na abordagem dos esquemas

O(a) psicoterapeuta em grupo, quando capacitado(a) na Teoria dos Esquemas, atua para:

  • Psicoeducar o grupo sobre esquemas, modos e necessidades emocionais

  • Ajudar os participantes a nomearem seus esquemas e reconhecê-los no aqui e agora

  • Facilitar experiências corretivas, por meio do grupo e da relação terapêutica

  • Validar as emoções de dor e também estimular o enfrentamento saudável dos padrões desadaptativos

  • Promover um ambiente de vínculo seguro e respeitoso, favorecendo a vulnerabilidade

Conclusão

A psicoterapia em grupo, aliada à Teoria dos Esquemas, representa uma combinação altamente transformadora. O grupo funciona como um espelho vivo onde antigos padrões são ativados — mas, dessa vez, com a chance de vivenciar respostas diferentes, mais saudáveis e afetivas.

No grupo, encontramos outras pessoas que também carregam suas dores, e é nesse encontro humano que algo novo pode nascer. Não há cura emocional sem vínculo. E o grupo é, por excelência, um espaço de vínculo.

Se você sente que está repetindo padrões que te machucam, talvez seja o momento de experimentar uma nova forma de se relacionar — consigo e com o outro. A psicoterapia em grupo pode ser esse lugar.

Referências

Young, J. E., Klosko, J. S., & Weishaar, M. E. (2003). Schema Therapy: A Practitioner’s Guide. The Guilford Press.

Yalom, I. D., & Leszcz, M. (2006). The Theory and Practice of Group Psychotherapy (5th ed.). Basic Books.

McRoberts, C., Burlingame, G. M., & Hoag, M. J. (1998). Comparative efficacy of individual and group psychotherapy: A meta-analytic perspective. Group Dynamics, 2(2), 101–117.